As Napolitanas da CP
Carruagens de via estreita, que entraram ao serviço em 1931.
As carruagens Napolitanas foram adquiridas pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, mais conhecida como NORTE. A nova frota de via métrica da NORTE, formada por 17 carruagens e três furgões, foi construída em 1931 pelo fabricante italiano OFM - Officine Ferroviarie Meridionali, S.A., com sede em Nápoles. As Napolitanas devem essa designação à empresa e ao local onde foram construídas, prática comum no panorama ferroviário português de então.
A 17 de setembro de 1931, o novo material circulante chegou a Portugal via porto de Leixões. A sua aquisição representou uma novidade dado que seria o primeiro material circulante rebocado em Portugal, com caixa autoportante integralmente em aço. A aposta neste tipo de carruagens tinha como intuito melhorar o serviço e potenciar uma oferta diferenciada.
Os furgões eram utilizados para o transporte de bagagens e correio. O seu esquema de cores original, era formado por castanho, tejadilhos em cinza e subleito a preto. Já sob a gestão da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, foi considerada a sua conversão em carruagem-furgão, algo que veio posteriormente a acontecer, permitindo deste modo transportar também passageiros. Entre as décadas de 50 e 60, procedeu-se à alteração do logótipo e da cor, que passou a ser em tons de azul. Entretanto, com a extinção da 3.ª classe, as carruagens-furgão passaram a ser apenas de 2.ª classe. Em 1976, e sob gestão da recém nacionalizada CP, foram novamente intervencionados. Além da alteração dos interiores, que inclui a instalação de aquecimento e substituição dos bancos de madeira por bancos estofados em couro em dois dos furgões, a cor foi novamente alterada, desta vez para tons de vermelho, branco e castanho. Em 1994, estes veículos saíram definitivamente de serviço.
Ao longo de mais de seis décadas, os furgões circularam nas linhas de Guimarães, Porto à Póvoa e Famalicão, bem como em toda a extensão das linhas do Tâmega e Tua. Atualmente, o único exemplar existente e em ordem de marcha, mantém alguns dos traços originais, tais como os bancos em madeira e faz parte, desde fevereiro de 2020, do Comboio Histórico do Vouga.
As 17 carruagens foram fornecidas em diferentes tipologias: três carruagens de 1.ª classe, três carruagens mistas de 1.ª e 3.ª classe, 10 carruagens de 3.ª classe e uma carruagem-salão, atualmente exposta no Museu Nacional Ferroviário – Núcleo Museológico de Lousado. Todos os veículos tinham características padrão, nomeadamente um corredor amplo, WC, janelas de abrir, ventiladores no tejadilho e luz elétrica. Dispunham de aquecimento, cuja água era aquecida pela sua própria caldeira. Já sob a gestão da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, as Napolitanas não sofreram grandes alterações, à exceção da cor e do logótipo. Na década de 50, as cores originais em tons de branco marfim, castanho, tejadilhos em cinza e subleito a preto são alteradas e a frota passou a ostentar um esquema azul. As carruagens com 1.ª classe, tinham uma faixa amarela na zona entre a parte superior das janelas e o teto. Nos anos 60, além do azul, alguns veículos ostentaram cores idênticas às das carruagens Schindler: vermelho escuro, cinza ao nível das janelas e castanho nos tejadilhos. Entretanto, dá-se a extinção da 3.ª classe e as carruagens passaram a ser apenas de 1.ª e 2.ª classe.
À época, a CP considerava as Napolitanas fundamentais. A partir dos anos 70, foram recondicionadas e posteriormente alvo de um programa de revisão integral que implicou mudanças ao nível do interior e exterior. A partir de 1974, há nova alteração de cor com a frota de carruagens a receber um novo esquema em tons de vermelho e branco com tetos em castanho. Grande parte dos serviços das carruagens resume-se, sobretudo, às linhas de Guimarães e do Porto à Póvoa e Famalicão, onde asseguraram durante décadas os principais serviços e ligações. Circularam também na Linha do Tâmega, onde asseguram alguns dos serviços regionais. No início dos anos 80, uma parte da frota começa a migrar para a linha do Tua. A partir de 1995, passaram a partilhar a estação de Mirandela com o material circulante do recém-criado Metropolitano Ligeiro de Mirandela. Em outubro de 2001, após contrato celebrado com a CP, esta empresa passou a assegurar o serviço entre o Tua e Mirandela. Nesse ano, a frota de carruagens existente à época, ficava definitivamente fora de serviço.
O seu regresso começou a ser preparado entre meados de 2020 e 2021, com a recuperação e colocação em estado de marcha das quatros restantes Napolitanas, tendo em vista a sua integração nos serviços turísticos da Linha do Vouga. As carruagens mantêm as características, à data em que ficaram fora de serviço comercial, com exceção da cor dado que será aplicado um esquema semelhante ao primeiro esquema de cores que tiveram ao serviço da CP.
Em abril de 2021, procedeu-se à marcha de ensaios das duas primeiras carruagens recuperadas. O mês de maio marcou o regresso, 20 anos depois, deste material circulante histórico, através da sua integração no Comboio Histórico do Vouga e no ano em que se comemorou o seu 90.º aniversário.
Foto: Pedro Mêda.