Comboio Presidencial

Formado por carruagens de 1890 e 1930

Adquirido pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, era inicialmente formado por três salões construídos em 1890 pela empresa francesa Désouches David & Cie. A sua designação inicial de Comboio Real foi alterada a partir de 1910, ano da implantação da República, para Comboio Presidencial.

A composição passava a ser destinada ao Chefe de Estado, que a utilizava com frequência nas suas deslocações oficiais. A Casa Civil da Presidência da República, em estreita articulação com a administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, estabelecia as marchas especiais. Até 1930, o comboio mantém-se sem grandes alterações e com o mesmo número de veículos de origem, entretanto batizados de Salão dos Ministros, Salão Restaurante e Salão da Comitiva e Segurança. Nesse ano, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, encomenda ao fabricante alemão Linke-Hoffmann Busch o Salão do Chefe de Estado. Este novo veículo, em tons de verde-escuro e interior luxuoso, dispunha de várias divisões, tais como vestíbulo, cozinha, salão e aposentos para o Presidente.

No âmbito das Comemorações Centenárias da Fundação de Portugal - e com o intuito de uniformizar a composição - foram remodelados em 1940, nas Oficinas Gerais do Barreiro, os três salões de 1890 que originalmente formavam o Comboio Presidencial, de modo a ficarem com o formato e cor do Salão do Chefe de Estado. Nessa altura, é também incorporado um furgão datado de 1930, construído pelo fabricante belga Baume & Marpent, bem como uma carruagem de 1ª classe construída em 1930, pela empresa Nicaise & Delcuve, sediada em Bruges, Bélgica. Esta carruagem, entretanto, batizada de Carruagem dos Jornalistas, destinava-se aos repórteres e redatores convidados para acompanhar o Chefe de Estado e demais responsáveis políticos, tendo sido devidamente adaptada ao novo serviço. Dispunha de um corredor longitudinal e sete compartimentos, cada um com capacidade para seis lugares. Em meados da década de 50, a composição recebeu o esquema de cores em tons de azul escuro com leito e tejadilhos dos veículos a prateado.

Entre 1940 e 1970, o Comboio Presidencial manteve-se em atividade e ao serviço de vários Presidentes da República e outras individualidades de destaque, com a maioria das viagens a realizarem-se entre Lisboa e Porto. Sempre acompanhado por fortes medidas de segurança, a grande mais valia deste comboio era o facto de permitir transportar altas individualidades e convidados de forma rápida, com uma comodidade ímpar e num ambiente de luxo, podendo, inclusivamente, serem servidas refeições a bordo.

Neste comboio viajaram figuras de Estado, como o Marechal Óscar Fragoso Carmona, o Almirante Américo Tomás ou o Marechal Francisco Craveiro Lopes. Durante os anos 60, a comitiva que acompanhava o Chefe de Estado, era normalmente formada por 18 tripulantes que estavam afetos permanentemente ao comboio. A composição esteve também ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao acolher comitivas governamentais de chefes de estado, oriundos de outros países durante a sua visita a Portugal. Em 1961, circulou em Espanha aquando da visita de Américo Tomás a Madrid e, quatro anos antes, transportou a comitiva da Rainha Isabel II durante a sua visita a Portugal.

Uma das últimas viagens do Comboio Presidencial dá-se a 30 de julho de 1970, no âmbito das cerimónias fúnebres de António Oliveira Salazar, partindo de Belém, em Lisboa, em direção a Santa Comba Dão.

Após retirada de serviço, uma parte da frota ainda permaneceu mais algum tempo em circulação. Em finais da década de 70, o Salão do Chefe de Estado, o Salão dos Ministros e o Salão da Comitiva e Segurança integraram o “Comboio Sazonal” entre Lisboa e Algarve. Por seu turno, nos anos 80, dois desses veículos foram resguardados em seções museológicas: o Salão do Chefe de Estado foi colocado em Santarém e o Salão Restaurante em Estremoz. No que diz respeito ao Salão da Comitiva e Segurança e ao veículo destinado aos Ministros, foram transferidos da antiga Estação da Cruz de Pedra, em Lisboa, para o Entroncamento, local onde já se encontrava a Carruagem dos Jornalistas e o furgão, que, desde meados da década de 70, era o único exemplar da sua série. Em 1980, o Salão dos Ministros chegou a ser adaptado para servir como parte integrante do comboio-socorro que se encontrava em prontidão no Entroncamento, até ao início de 2011. 

Com a preparação, em 2009, do projeto “Passeios Presidenciais – Conservação e Restauro do Comboio Presidencial”, era grande a probabilidade de a composição voltar novamente ao ativo, uma vez que a iniciativa tinha como objetivo o restauro integral, e colocação em estado de marcha, deste comboio. A ideia era que pudesse voltar a circular na rede ferroviária portuguesa, realizando viagens pelas várias regiões do País, e integrar a exposição permanente do Museu Nacional Ferroviário do Entroncamento.

Os seis veículos do comboio foram, entretanto, reagrupados para dar início aos trabalhos de restauro e conservação, que decorreram entre os meses de outubro de 2010 e junho de 2013, nas oficinas da antiga Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, em Contumil, no Porto. A fase de pintura decorreu maioritariamente nas oficinas de Guifões, em Matosinhos.

O dia 20 de dezembro de 2012 marca o regresso aos carris desta composição histórica, após quatro décadas de interregno, com os ensaios na via a decorrerem na Linha do Minho, entre Contumil, Porto e Valença.

A apresentação pública do renovado Comboio Presidencial decorreu no dia 12 de dezembro de 2013, na Estação de Santa Apolónia, em Lisboa. Da iniciativa fez parte uma viagem entre Lisboa e o Entroncamento. Desde então, a composição tem vindo a efetuar um conjunto de viagens especiais e pode ser visitada, em permanência, no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.

 

*Foto: Carlos Pinto.